domingo, 18 de outubro de 2009

Cigarro, o design que vicia.

Li este texto já faz um bom tempo e sempre falo dele pras pessoas pois acho muito bom, mas acabo sempre deixando pra passar o link depois e nunca passo.
Então pra facilitar vou colocá-lo aqui.
Foi escrito pelo Barão Di Sarno da Nó Design

E aqui vai o texto:

Recentemente li uma reportagem que acabou com uma daquelas verdades absolutas que costumamos trazer da infância – época em que verdade significa tudo aquilo que os pais nos contam. A reportagem dizia que a dependência química provocada pela nicotina é pequena se comparada a muitas outras substâncias presentes em outras drogas. No entanto a dependência psicológica do cigarro é uma das maiores que existe.
Depois de ler esta reportagem eu cheguei a seguinte conclusão: o que mais vicia no cigarro não é a nicotina, mas seu design.
São vinte bastões que cabem num bolso e representam vinte possibilidades de parar o mundo e ficar consigo mesmo. Vinte possibilidades de interromper o trabalho, de parar de ter que ser simpático com todo mundo, de prolongar um pouco mais o almoço, de poder refletir sobre uma idéia, e esticar as pernas, de olhar a vida alheia sem parecer invasivo. Vinte bastonetes bem feitos, fáceis de comprar, embalados de forma prática e compacta.
Dentro desta linha de raciocínio então qual é a função da nicotina?
Por sorte dos fumantes a nicotina realmente vicia. Graças a isso, ela é o aval que o fumante tem para poder fazer o que o resto do mundo não pode (a não ser que invente uma diarréia fulminante ou aceite ser rotulado como vagabundo) que é ter momentos durante o dia para si. Aos outros, resta o dia a dia duro, sem momentos de reflexão. Graças à nicotina, os fumantes podem ter tratamento diferenciado assim como uma criança com a perna engessada que provoca a inveja das outras por receber maior atenção da professora e pode não fazer educação física.

Peoria Smoking - Peoria Smoking
Minha namorada, em uma de suas performances familiares, simulou a mesma cena duas vezes: uma mulher recém chegada em uma balada charmosamente encosta-se na parede e fuma um cigarro enquanto olha ao redor mapeando o ambiente, avaliando seus perigos e seus desafios. Depois disso, ela repetiu exatamente a mesma cena da tal mulher, mas desta vez sem o cigarro. O mesmo retrato nos transmite uma sensação completamente diferente. A mesma mulher sedutora e senhora de si torna-se uma solitária insegura, abandonada num canto qualquer a Deus dará.
Fumantes flutuam por aí em meio a fumaça enquanto nos resta a realidade de cara lavada e sem intermédios.
A primeira vez que constatei as vantagens dos fumantes e o design por trás disso tudo resolvi projetar meu cigarro. Peguei papel, algodão e canetinha e fui para a balada. Meu cigarro tinha cinza e tudo. O resultado foi impressionante! No mesmo período em que os não fumantes ficam planejando abordagens para interagir na noite, os fumantes constroem um universo à parte: “Você tem fogo?” “Você pode me dar um?” “Qual cigarro você fuma?” Me senti parte de um mundo paralelo, de um grupo próprio, como devem se sentir os maçons, os motoboys e os barões de título e não de apelido, como este que voz fala. Repeti a dose outras vezes… Mas, como o tempo, eu era desmascarado da seita, tal qual Tom Cruise em “De Olhos Bem Fechados”.
Isso é que é bom design: um produto eficiente em sua forma/função e que provoca toda uma rede elaborada de relações e articulações simbólicas, gerando uma noção de comunidade, facilitando as relações e apoiando os inseguros. Tudo o que um bom design deve fazer.
Só tem um probleminha:
Mata…………..E muito!!!
Mais que acidentes de carro, mais que assassinatos, mais que guerra…. Estes minutos de satisfação por dia são cobrados depois, pois em média um fumante vive dez anos menos que os não fumantes…

Será que um dia nós seremos capazes de criar um novo design tão bom e tão satisfatório quanto o cigarro, mas que não tenha este pequeno defeito?

abraço,

BARÃO


Via:http://blog.nodesign.com.br/



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