terça-feira, 28 de maio de 2013

Moda, isto é belga




Como tudo começou...

Em 1981 o ministro da economia, Willy Claes desenvolveu o "Textielplan", ou em português, o plano têxtil. Ele tinha o objetivo de apoiar a indústria têxtil o máximo possível dando suporte financeiro para as companhias mais frágeis.
Helena Ravijist, professora de têxtil, é apontada como conselheira do ITCB (Institute for Textiles and the Clothing Industry in Belgium) e convidada a dar forma ao plano de cinco anos do ministro.
Ela cria a campanha de orgulho de moda belga "Mode, dit is Belgisch " e organizam então em 1982 o "Golden Spindle Contest", uma cooperativa com os estilistas graduados belgas para promover a indústria têxtil e de moda belga.

A fama...

Graduados entre 1980 e 1981 na Royal Academy of Fine Arts (que faz parte da Artesis Hogeschool Antwerp desde 1996) ensinados pela Linda Loppa, o coletivo Antwerp Six (Walter Van Beirendonck, Dirk Van Saene, Dries Van Noten, Dirk Bikkembergs, Ann Demeulemeester e Marina Yee) alugou um caminhão em 1987 e partiu para a semana de moda britânica em Londres onde estavam todos entendiados com a moda no momento e ansiosos para verem algo novo e empolgante. Foi o momento perfeito, sendo comentados por toda mídia, a qual os nomeou "Antwerp Six" pois não conseguiam pronunciar seus nomes.

É importante mencionar também que essa empreitada foi organizada por Geert Bruloot.
Bruloot abriu uma loja chamada Coccodrillo em 1984, a qual vendia somente desginers belgas. Coisa que era bem difícil de se fazer na época. Ele tinha o objetivo de vender calçados que valorizavam a criatividade ao invés do consumismo e apoiava os estilistas de lá.
Entrevista dele contando como foi.

Fonte contando a história com todos os detalhes.
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Alguns nomes importantes na história...

Mary Prijot - fundadora do departamento de moda da academia
Inglesa nascida em 1917, muda-se para Antuérpia com 6 anos de idade.
Em 1963 funda o departamento de moda e figurino da Royal Academy of Fine Arts.
Atua como diretora do departamento por 19 anos. Falece em 1990.


Linda Loppa - professora e diretora da academia
Graduada em 1971, trabalhou como estilista para uma fábrica de casacos de chuva e gerenciou uma loja no centro da Antuérpia, a qual introduziu marcas vanguarda italianas e francesas. 
Em 1982, com a aposentadoria de Mary Prijot, torna-se professora e diretora da academia até 2007. 
Foi jurada do "The Golden Spindel".
Em 1987 abriu uma loja a qual vendia marcas como Romeo Gigli, Jean-Paul Gaultier, Helmut Lang e Comme des Garcons. 
De 1992 a 1997 trabalhou na parte de logística para Dries van Noten. 
Co-fundadora do Flanders Fashions Institute instalado em 1998.
Linda inicia a realização do Mode Museum aberto para o publico em 2001 e ocupa o cargo de superintendente.
Em 2007 muda-se para Florença para ser reitora da Polimoda.

Fonte
Breve palestra no TED


Walter Van Beirendonck - estilista, professor e diretor da academia
Gradudo em 1980, apresentou sua primeira coleção em 1982, começa lecionar da academia em 1985, em 1987 apresentou sua coleção em Londres como parte dos "Antwerp Six", em 2007 sucede Linda Loppa como diretor da academia.
Além de sua marca epônima, também criou a marca aestheticterrorists que durou de 1999 a 2004


Paul Boudens - designer gráfico
Em 1991 completa seus estudo de design gráfico e ilustração na Sint Lucas Hogeschool em Antuérpia. Imediatamente começa trabalhar com Beirendonck, o qual delineou novas linhas para o logo de sua empresa. 
Logo após surgem diversos projetos para designers como Wim Neels, Jurgi Persoons, Dries Van Noten, A.F. Vandevorst, Olivier Theyskens e Yohji Yamamoto. Assim como o logo do museu de moda da Antuérpia (MoMu).
Em 2003 publica seu primeiro livro: Paul Boudens Works Volume I. 
Recebeu diversos prêmios por seu trabalho.

Olivier Rizzo - stylist, consultor criativo e editor de moda
Graduado em 1993 na academia de Antuérpia, se juntava com seu colega de faculdade, Willy Vanderperre (que mais tarde tornou-se fotógrafo) aos fins de semana para fazerem editoriais.
Em 2001 Marc Jacobs o convidou para fazer o styling do desfile masculino da Louis Vuitton. Com a ajuda de Vanderperre ele fez o casting e acabou continuando como consultor na marca por três anos, antes de trabalhar com Dolce & Gabbana, Jil Sander e Prada.


Willy Vanderperre - fotógrafo
Formado junto com Olivier Rizzo (styling) e Peter Phillips (make-up), juntavam-se aos fins de semana para fotografarem editoriais. Willy mandava as fotos para a revista I-D perguntando se gostavam e gostariam de publicá-las, o que dava certo.


Peter Philipis - maquiador
Após se formar em design gráfico em Bruxelas, volta para Antuérpia para estudar fashion design na academia. A faculdade mandou um ônibus para semana de moda de Paris, e, enquanto ajudava a vestir os modelos, ele viu a equipe de beleza trabalhando e pensou que poderia fazer o mesmo. 
Após a graduação em 1993 ele se focou em maquiagem. Construiu seu portfólio com os trabalhos com Rizzo e Vanderperre.
Em 2008 Lagerfeld o convidou para ser o diretor criativo de maquiagem da Chanel, ficando na posição até 2013.
Obs.: Philips começou com a maquiagem aos 27 anos.
Fonte


David Vandewal - stylist
Graduado na academia de moda de Bruxelas em 1992, começou trabalhando com Dries Van Noten e logo começou desenvolver tecidos e acessórios que seriam as bases das coleções.
Colaborou com diversas revistas, fotógrafos e marcas.
Fonte


Bob Verhelst - cenógrafo
Graduado em 1979 na academia. Trabalha como estilista para algumas marcas comerciais, de 1989 a 1998 colabora com Martin Margiela.
Faz a cenografia de diversas exposições e desfiles de grandes marcas.


Me foquei no perfil de alguns não-estilistas para mostrar como é legal e foi importante que houveram colaborações com amigos trabalhando em áreas complementares para a criação de uma imagem de moda completa. É interessante ver também como cada um evoluiu individualmente anos depois.

Segue lista de demais graduados da academia:

Dries Van Noten
Ann Demeulemeester
Martin Margiela
Dirk Bikkembergs
Dirk Van Saene
Marina Yee
Jurgi Perssons
Veronique Branquinho
Raf Simons
A.F. Vandevorst
Bernhard Willhelm
Lieve Van Gorp
Patrick Van Ommeslaeghe
Bruno Pieters
Haider Ackermann
Anna Heylen
Angelo Figus
Eric Verdonck
Anne-sophie de Campos Resend’s


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ModeNatie, edifício composto pelo Flanders Fashion Institute, o museu de moda MoMu, a livraria do MoMu e o departamento de moda da Royal Academy of Fine Arts.

Curadora do MoMu, Karen Van Godtsenhoven, falando sobre o museu.

Flanders Fashion Institute ajuda designers belgas a profissionalizarem seu negócio e coloca-os em contato com os compradores, jornalistas e amantes da moda.
Toda empresa saudável de moda é baseada em quatro pilares: criação, produção, distribuição e promoção.
Eles entendem que a maioria dos designers de moda se apoiam no pilar criativo e não sucedem nos negócios. O instituto foi criado em 1998 para ajudar os designers a adquirirem habilidades necessárias para administrar esses quatro aspectos. O FFI é focado em informar, treinar e promover.


A Magazine Cureted By, concebida como a primeira revista de moda belga, é uma publicação que convida diferentes estilistas (ou marcas) a expressarem seus universos, trazendo seus valores estéticos e culturais.
Já houveram curadorias de Dirk Van Saene, Bernhard Willhelm, Hussein Chalayan, Olivier Theyskens, Viktor & Rolf, Maison Martin Margiela, Yohji Yamamoto, Haider Ackermann, Jun Takahashi, Martine Sitbon, Veronique Branquinho, Kris Van Assche, Riccardo Tisci, Proenza Schouler, Giambattista Valli, Rodarte e Stephen Jones

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O mais interessante é ver como as coisas foram evoluindo, e como isso pode acontecer aqui no Brasil também e chegarmos a ter uma moda importante reconhecida mundialmente.
O apoio do governo e mentes criativas que tomaram inciativa foi fundamental para a formação e evolução de tantos talentos na época.
O trabalho colaborativo entre os estreantes juntando estilo, fotografia, styling, maquiagem proporcionou empurrarem barreiras na época e a tão importante criação do novo.

Para informações mais completas sugiro este link.
E o melhor arquivo de moda contemporânea.



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Identidade - Súbita crise na moda brasileira.



De repente todos falando dessa tal crise na identidade de moda brasileira. Até o BoF publicou um artigo.
Diversos problemas (prazo) fizeram várias marcas importantes (Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Maria Bonita, Alexandre Herchcovitch(masculino), Huis Clos, Iódice, Cia. Marítima e Vitorino Campos) desistirem de desfilar o Verão 13-14 do SP Fashion Week que ocorreu em março. Isto com certeza enfraqueceu nossa semana de moda, porém não é justo, por conta disto, declararem uma crise de identidade.

O problema de fato apontado pelo BoF são as marcas extremamente voltadas para o comercial (Colcci, TNG, Triton e Cavalera) apresentando tendências não originais mastigadas da Europa.

As grandes marcas já tomaram território brasileiro dando mais opções aos consumidores e aumentando a concorrência e dificultando a vida das empresas nacionais.

Voltando sobre o assunto identidade.. acho complicado quererem estipular uma identidade de moda para um país que ainda tem pouca experiência nisto comparado com os famosos.
É fácil reconhecer a moda de Londres com sua exploração em novas proporções, Paris sofisticada com sua maestria em executar lindas peças, Milão com sua exuberância, Japão misturando lindamente o oriente com ocidente e Nova Iorque com seu comercial contemporâneo destacando-se pelo Marc Jacobs.
Fora isso, o que se fala sobre as outras semanas de moda mundo afora? As cerca de 80 sem contar os eventos menores como Casa de Criadores.
Qual identidade de moda da L'Oreal Melbourne Fashion Festival por exemplo? Eu não sei. Alguém talvez saiba e possa contar.

A questão que quero chegar é que eu acredito sim que existe uma identidade da moda brasileira, mas mais do que isso existem as características regionais. Nos países da Europa essas características devem ficar fáceis de generalizar e definir para o país todo por serem pequenos e com pouca diferencia regional, porém no Brasil, onde sudeste, nordeste são completamente diferentes, com pessoas, costumes e culturas diferentes, onde até Rio e São Paulo representam lifestyles tão opostos, fica difícil estabelecer uma identidade de moda do país.

Acredito que o que faz sentido estilistas que se caracterizam com determinadas estéticas exibirem seus shows nos respectivos países que fazem sentido se assim quiserem. Da mesma forma que os incríveis e experimentais belgas desfilam em Paris e Pedro Lourenço já foi.

Não existem mais fronteiras em referências globais para a criação. Todos estão recebendo e assimilando as mesmas maiores notícias. Um designer brasileiro não é somente um criador brasileiro, mas também parte global. Todos somos um pouco do que nos cerca e do todo que conhecemos.

A tal identidade de moda brasileira simplesmente é o designer brasileiro.
Se tivermos pessoas incríveis fazendo shows incríveis, não importa aonde exibimos, e sim da onde viemos.
Vejo isto pelo exemplo da moda belga que é super reconhecida pelos estilistas formados lá que porém não desfilam lá.

Agora também ainda não sei dizer a característica que nos define, mas creio que em pouco tempo isto ficará claro.

domingo, 5 de maio de 2013

JW Anderson - Empurrando barreiras sobre a estética do vestuário masculino-feminino


JW Anderson Autumn/Winter 2013-14

Empurrando barreiras sobre a estética do vestuário masculino-feminino.
É assim que o estilista J.W. Anderson tem sido visto perante seus últimos shows.
O discurso de Jonathan é claro: roupa tem que ser empolgante.
O objetivo dele é criar o novo, é sobre como o vestuário poderia ser. Quando você apresenta uma ideia, ela deve causar uma reação.
E o constante assunto sobre androginia nas suas coleções está suficientemente bem explicado: Roupa é roupa, não é feminino ou masculino. Para ele é sobre um personagem.

Nesta coleção diz ser sobre construção, arquiteturas suspensas, linha e sobre como você pode desproporcionalmente equilibrar aquele personagem construído.


E o mais legal de tudo é ver como as coleções do estilista vão evoluindo gradativamente e como é importante acreditar na sua própria visão.

E mais um detalhe.. as vendas da JW aumentaram muito após seu desfile que gerou tanta controvérsia.

      

Fotos do Vogue.co.uk.